Toda campanha começa com um grupo de
pessoas em torno de um candidato. Toda campanha carrega a esperança do sucesso.
Para ter sucesso uma campanha precisa conseguir o apoio de um número expressivo
de eleitores
Toda campanha somente terá sucesso se conseguir o apoio de um número
expressivo de eleitores, que corresponda à maioria dos eleitores (eleição
majoritária), ou, pelo menos se aproxime do número fixado como quociente
eleitoral (eleição legislativa).
É neste último aspecto que se
localiza o problema de cada candidato: como multiplicar os apoios, a partir
daquele pequeno grupo inicial, para um número suficiente de eleitores que
permita ganhar a eleição.
É claro que me refiro primariamente àqueles que vão disputar uma eleição
pela primeira vez. Mas os argumentos valem também para quem já se candidatou e
não se elegeu, assim como para aqueles que buscam a reeleição.
Alem disso aplicam-se, com adaptações, sobretudo de escala, no caso
tanto de eleições para o legislativo, como para o executivo.
O candidato começa então por
reunir um grupo que o apoia e que se dispõe a colaborar na sua campanha. Qual o critério para formar este
grupo?
Aqui começam os riscos das decisões tomadas. De fato, desde o momento em
que uma pessoa decide concorrer a um cargo eletivo, todas as suas decisões
terão seus custos e conseqüências.
Este grupo inicial naturalmente está constituído de pessoas próximas, unidas por vínculos de amizade, ou por um
projeto comum, ou também por
interesses comuns.
É comum que o candidato e seu grupo decidam buscar o respaldo político e
eleitoral na categoria profissional a que pertence, na aparentemente óbvia
suposição de que, eleito, será um representante da categoria a defender seus
mais caros interesses.
Essa linha de raciocínio estratégico é antecedida
do cálculo do numero de membros da categoria, multiplicado pelos familiares, com uma parcela
adicional a ser buscada pelos amigos dos colegas. Por exemplo, suponhamos que a
categoria tenha 60 mil membros. A primeira pergunta que feita é: Qual o
percentual que pode votar no candidato? Neste ponto há várias hipóteses e
naturais divergências entre os respectivos defensores.
Há os mais otimistas, e os mais pessimistas, mas acaba se por chegar a
um número, digamos, neste exemplo, de 30% dos membros da categoria, o que
equivaleria a 18.000 votos.
A discussão sobre esse número é concluída com a frase, usualmente dita
pelo candidato: Menos que isso também não! A partir de então já se tem uma base
18.000. Ora esses 18.000 têm um cônjuge e filhos, assim que cada
família tem em média algo em torno de 3 votos. A simples multiplicação já eleva
a votação para 54.000 votos, os quais o candidato, num gesto impetuoso de
realismo (!?) reduz para 50.000.
Muitas vezes se exagera na base percentual de votos a serem obtidos em uma
categoria
Por fim há os votos avulsos, gerados pelos amigos, pela família, pelos
vizinhos etc. que podem aumentar mais ainda aquela estimativa.
A cada eleição há um sem número de candidatos que escolhem essa
trajetória. Alguns conseguem, mas a maioria fracassa.
Embora logicamente o argumento que a sustenta faça
sentido, ele possui algumas falhas graves, que usualmente são desconsiderados.
Este argumento ganha em validade à medida que a categoria está em crise,
insatisfeita, impotente para garantir o salário e as condições de trabalho que
julga adequados.
Os partidos social democratas, do fim do século XIX e inícios do século
XX, conquistaram grandes representações nas câmaras de deputados e assembléias
porque os salários eram dramaticamente insuficientes para sustentar uma
família, o Estado não mantinha serviços de saúde, educação, e emprego para os
trabalhadores, e as condições do trabalho eram absolutamente desumanas.
Portanto, o argumento de que a categoria vai votar para eleger um
representante seu faz sentido quando há grande insatisfação com a situação do
trabalho, sua remuneração, e as garantias que oferece.
Nessas condições, o eleitor da categoria raciocina
como membro da categoria.
Por outro lado, se a situação de vida é satisfatória, o eleitor da
categoria tende a votar por outros critérios (partido, ideologia, candidato da
região, simpatia, projetos etc).
Não se pode esquecer que cada um de nós é um polo onde incidem vetores,
oriundos de todas as dimensões de nossa vida. Somos um feixe de tendências
de votos diferentes e, em muitos casos, em oposição.
Sofremos a influência da família, dos amigos, do local onde vivemos, dos
nossos princípios, do partido com o qual mais nos identificamos, das
associações a que pertencemos, dos jornalistas e autoridades em que confiamos,
das escolhas que já fizemos no passado, entre muitos outros vetores.
A identificação com a nossa categoria profissional
é, como se vê, apenas mais um daqueles feixes. Se é assim, então porque tantos candidatos
apostam no apoio de sua categoria?
Porque não fizeram este raciocínio, e porque é mais fácil e acessível
apoiar-se neste grupo e terceirizar para ele a busca dos votos. Cuidado
então, com a tentação de apoiar-se em sua categoria social ou outra variável
acessível e próxima, de onde se busca votos com mais facilidade. Voto nunca é
fácil. Conseguir voto dá trabalho. Voto se procura, se busca, se conquista um a
um.
Nem sempre sua categoria social é garantia de voto "fácil".
Sobretudo em eleições legislativas, onde há uma grande quantidade de
candidatos, eu costumo dizer que fazer campanha é garimpar votos entre
eleitores desinteressados.
Não se questiona a correção da decisão de concentrar nos colegas de
profissão o núcleo multiplicador inicial da futura campanha.
Um candidato novo precisa se apoiar num grupo que já o conhece, e, a
partir dele, ampliar para o eleitorado geral o conhecimento de sua pessoa e de
seus projetos.
Embora nossos colegas nos conheçam, em números muito mais expressivos do
que a população em geral, não é aconselhável confiar-se demasiadamente na
suposição da translação de conhecimento para intenção de voto, pelas seguintes
razões:
- Como
regra, somos muito menos conhecidos do que normalmente imaginamos;
- Para
quem disputa pela primeira vez, é importante não esquecer que ser
conhecido pela função atualmente desempenhada é manifestamente
insuficiente para ter uma campanha competitiva;
- Dentre
aqueles que o conhecem, haverá os que gostam de você, assim como os que
não gostam;
- Mesmo
seus colegas precisam de tempo e persuasão para poder vê-lo e aceitá-lo
noutra posição, ou mesmo noutra carreira;
- Ser
conhecido é o primeiro e maior desafio de qualquer candidato; é a base
indispensável, o desafio inafastável de qualquer candidatura, para depois
ser identificado, comparado, e, finalmente, ser lembrado, no dia da
eleição, como o candidato escolhido;
- Como
o número de candidatos de cada partido, e o total de candidatos à mesma
função é desproporcional à capacidade de qualquer pessoa reter na memória,
ser conhecido e, se possível pessoalmente, é o recurso mais valioso e
eficiente da sua campanha;
Essas são algumas das principais razões pelas quais o investimento da
campanha em tornar o candidato conhecido é decisivo. Reitero que mesmo entre
colegas nunca se deve superestimar o seu grau de conhecimento.
A decisão de restringir o público alvo ao segmento profissional do
candidato é correta para iniciar a campanha, por ser este grupo o potencial
multiplicador inicial. Atente-se entretanto para o fato de que, muito
dificilmente uma categoria profissional consegue coesão e força eleitoral
suficiente para eleger um deputado. É absolutamente indispensável ampliar o
leque de eleitores potenciais.
Fonte: Política Para Políticos