Convite aos Visitantes.

"Ajude a construir o BIN@. envie sua matéria para o e-mail: noticiasdealuminio@gmail.com ou binanoticias@gmail.com"

sexta-feira, 19 de julho de 2013

São Roque: cidade cindida


Os últimos acontecimentos em São Roque mostraram que a cidade está divida num dueto: verdes e azuis. Semelhante alusão de significância histórica se deu no Império Bizantino. Governada por Justiniano, a cidade de Constantinopla (capital do Império) era cindida por duas torcidas organizadas: os verdes e os azuis. Tais agrupamentos esportivos formaram-se devido às populares corridas de cavalo. Com o passar do tempo, de torcidas esportivas transformaram-se numa espécie de partido político. Por conseguinte, para administrar o Império, todo governante teria necessariamente que obter o apoio de um dos grupos. O interessante é que o grupo que se encontrava alijado do poder condenava tudo que o grupo da situação fazia e este desconsiderava qualquer sugestão ou crítica do grupo oposicionista. Ou seja, sucediam-se pelejas pere nes.
Em São Roque estamos presenciando algo semelhante. Com a vitória eleitoral do sr. Daniel de Oliveira Costa, o eterno Daniel da Padaria, para prefeito, formou-se dois grupos: os seus apoiadores – que nomearemos de verdes; e os correligionários e simpatizantes do ex-prefeito, sr. Efaneu Nolasco Godinho – que chamaremos de azuis.
O primeiro grande episódio que marca o início da peleja sanroquense foi a queda da ponte na avenida Antonino Dias Bastos com a avenida Brasil. Como esse fato ocorreu nos últimos dias do mandato do sr. Efaneu, os verdes afirmaram, taxativamente, que a responsabilidade era do último. Por sua vez, os azuis diziam, aos quatro ventos, que o sr. Daniel enfrentava sua primeira prova dos nove: construir o mais rápido possível a ponte. A ponte só foi entregue após 6 meses e 16 dias. Durante esse período, verdes e azuis dispararam entre si acusações, especialmente pelo Facebook. Destarte, as abalizas iniciais de uma duradoura batalha tinham sido lançadas.
O acontecimento seguinte que arrefeceu os ânimos foi o gasto com a festa de Carnaval. O ex-prefeito Efaneu é conhecido na região por ser econômico, um verdadeiro avarento segundo os mais próximos. Tratando-se de gestão pública, essa característica pode ser vista de forma positiva. Contudo, os grupos carnavalescos da cidade “sofreram” na gestão tucana. O atual prefeito, sr. Daniel, resolveu investir um pouco mais nessa manifestação cultural, alguns exemplos podem ser destacados como a contratação de telão de transmissão e som de melhor qualidade. Pronto! Os debates entre os antagônicos verdes e azuis foram reacendidos e o “buzuzu” nos bares e esquinas sobre os valores gastos nesta festividade tradicional foi constante.
O capítulo seguinte da polêmica foi a realização, no início de junho, do InterUSP - encontro dos estudantes da USP visando às práticas e disputas esportivas. Através do Facebook, muitos moradores descreveram que o evento consistiu em uma verdadeira rave com dinheiro público, pois os seus participantes estavam mais interessados na diversão do que na competição esportiva. Como consequência, a tranquilidade de um feriado prolongado, segundo esses mesmos moradores, foi interrompida por música alta, gritaria e muita urina nas portas das casas de São Roque. As benesses trazidas pelo encontro foram divulgadas pelos verdes – “o evento dinamizou o comércio e arrecadou alimentos não perecíveis para entidades sociais do município” – e questionadas pelos azuis. Mais uma vez os grupos retomaram as agressões ve rbais. Apimentando ainda mais a situação, desta vez, o principal jornal da cidade publicou artigos ofensivos contra a gestão do prefeito Daniel da Padaria assinados somente por um email:eucuidosaoroque@hotmail.com
Um dos rounds mais esperados e previsíveis da peleja foi a festa de rodeio. Primeiramente, a mudança na data do evento passou a impressão de falta de planejamento por parte da gestão atual. Depois, a alteração na ordem dos dias da apresentação dos artistas e a dilatação do período de rodeia não soaram bem. Além disso, neste ano o rodeio de São Roque, cidade sem tradição nesse tipo de evento, configurou-se em 6 dias de festividade. Segundo os azuis: “uma política de pão e circo para nenhum romano botar defeito”. Assim, ressurgiu a contenda em um nível de alta tensão. Acusações do tipo: “Você só critica o governo porque é tucano”; “Você só defende a atual gestão porque tem cargo na Prefeitura” tornaram-se comuns.
Um episódio que demonstra que a cidade realmente está cindida e que os nervos estão à flor da pele, especialmente por parte dos verdes, foi o descerramento da placa de inauguração da nova ponte na avenida Antonino Bastos Dias com a avenida Brasil. Um pequeno grupo (5 pessoas) de manifestantes – na esteira do Movimento Passe Livre – se organizaram para jogar água no chopp dos verdes e cobrar as prometidas planilhas de custo da empresa que administra o transporte público no município. Os correligionários do sr. Daniel – intitulado por alguns veículos de comunicação da cidade de populares – não aceitaram mais esse questionamento e, identificando no pequeno grupo de estudantes seguidores dos azuis, resolveram impedir o legítimo protesto. Consequência: socos e pontapés para todo lado.
Portanto, lembrando o episódio no Império Bizantino, a cidade dividiu-se definitivamente e, hoje, nenhum presta a atenção naquilo que é falado pela outra parte; seja bom, seja ruim para o município. Entretanto, no meio dessa peleja está um grande contingente que não faz parte nem dos verdes nem dos azuis, mas que começou a ser encarado com desconfiança pelos dois grupos em disputa.
Somados e subtraídos esses episódios, os sanroqueses, como um todo, estão sendo prejudicados. Por isso, e pensando no bem comum da cidade, ressaltamos que o prefeito não pode governar somente para os 19.500 pessoas que votaram em seu nome. Recordamos que o seu cargo compreende garantir o bem estar dos cerca de 80 mil munícipes. Para isso, o sr. Daniel e os seus correligionários precisam compreender que oposição é parte constituinte de qualquer governo democrático e abandonar, imediatamente, a máxima fascista que sentencia “que críticas construtivas nós aceitamos, não aceitamos a turma do quanto pior melhor”. Todas as críticas precisam ser ouvidas, as negativas, as positivas, as baseadas no senso comum e aquelas bem construídas. O bom gestor absorve aquilo que achar interessante, possível e necessário.
No Império Bizantino, a sublevação das torcidas organizadas/partidos, chamada de Revolta de Nika, foi contida com uma mescla de violência deferida pelo exército real e astúcia por parte da esposa do imperador Justiniano, a bela e temida Teodora. Como vivemos em pleno século XXI e numa sociedade democrática, seria importante que o sr. Daniel da Padaria, no lugar de usar a intransigência política e violência, dialogasse com os grupos que divergem da sua gestão. Para isso, lembre-se do conselho de inúmeras autoridades mundiais: “só cede poder quem tem poder”. Caso não queira travar a sua gestão e prejudicar os sanroquenses, está na hora de ceder, isto é, ouvir e aceitar as críticas e sugestões de amarelos, vermelhos, azuis, verdes, roxos e outros.

Rogério de Souza. Sociólogo e professor .

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Postagens populares